Faxinal é uma forma de produção agrícola bastante tradicional da região do Paraná onde eu moro, Centro-Sul, que se caracteriza pelo uso comum dos recurso naturais. A base dessa forma de organização da produção e até mesmo social é que os animais sejam criados livremente durante o dia e retornem a casa à noite. No faxinal a área destinada à agricultura geralmente é mais distante das residências e são delimitadas por ‘mata burros’ para que os animais não avancem sobre elas.

Há algumas semanas realizei uma saída de campo com meus/inhas alunxs de turismo cultural em um faxinal do município de Prudentópolis e apenas de morar aqui há mais de 12 anos eu não conhecia ainda nenhum. E foi uma experiência linda!

Esse post eu escrevi baseada nos relatos de duas alunas queridíssimas, a Maricelli – cuja família ainda vive no Faxinal de Papanduva de Baixo – e a Letícia que fez observações bastante competentes e detalhadas da atividade.

Faxinal, como modo de produção e propriedade, se divide em 4 formas de organização: aquelas em que não há demarcação das propriedades e a criação compartilha toda a pastagem disponível; aquela em que há cerca formada por 4 fios de arame bloqueando a passagem de animais de grande porte para proteger algum tipo de cultura específica; aquela organização cujas cercas são compostas de muitos fios de arame impedindo a passagem de qualquer animal; e por último a forma de organização na qual os animais são criados em total confinamento.
O Faxinal que visitamos, Papanduva de Baixo, fica a uns 40 minutos do centro de Prudentópolis e embora xs proprietárixs tenham uma estrutura de recepção, no momento a visita sistemática está inviabilizada por iniciativa da própria família. Mas mesmo assim eu achei que pelo visual e experiência valia o relato aqui.
Durante o dia visitamos o Museu da Baba Madalena (baba é avó em ucraniano), que é um museu de ambiência das antigas casas dos imigrantes ucranianos para a região. Em madeira, com muitos objetos que eram da família da Baba, ou foram doados por vizinhos, o espaço remonta a cultura e religiosidade de um povo simples e acolhedor.

Essa visita foi seguida por uma trilha na pastagem que incluiu a observação de uma araucária de mais 400 anos, e era tão alta quanto uma sequoia. Lindíssima. Durante a trilha muitas brincadeiras de criança e causos foram rememorados e muitxs alunxs se identificaram com essas lembranças.

De lá rumamos para a igreja do faxinal, de São João Batista, do rito ucraniano. Um pai nosso foi rezado pelxs que desejam, mas em ucraniano tá? 🙂 Muitos elementos de adorno e de constituição desse tipo de arquitetura foram observados.

Já lá pelas 13h era hora do almoço, ucraniano claro! Teve perohê (pastel cozido com recheio de batata), sopa azeda (de beterraba e carninhas defumadas), pernil suíno, saladas, sobremesa de kutiá (trigo selvagem com creme), cerveja caseira e refrescos. Além das onipresentes do inverno paranaense poncãs. Foi uma delícia.

Antes de deixarmos o faxinal, o pai da Mari satisfez uma curiosidade minha e nos levou até o fundo da casa, lá por meio de um chamamento específico ele convocou os porcos para virem comer. Isso usualmente é feito no fim do dia. E eles vieram de longe, correndo e animados. O legal é que cada tipo de animal tem um chamamento específico usado por todo mundo no faxinal, mas os animais nunca erram as suas casas. Sempre sabem para onde devem ir. Não é incrível? Eu amei!

Foi certamente umas das experiências mais lindas que já tive aqui na região, me tocou ver uma forma de organização social e produtiva tão própria nossa e constitutiva da nossa identidade – ainda que caindo em desuso mas resistindo onde e como é possível. Prudentópolis é cheia de surpresas turísticas lindas que valem a pena a visita.

Você conhece Prude? Já visitou algum faxinal? Conta aqui para mim!
Muito interessante. Realmente o interior do Estado do Parana, sempre tem surpresas agradáveis. Deve ter sido um uma passeio/aula, muito interessante. Adorei em ver seu relato e as fotos, parabéns.
Deveríamos ir juntos um dia desses.beijos
Muito interessante Poliana. Não conheço Prudentópolis nem um faxinal ainda, mas esse me deixou bem curiosa para conhecer.
Eu recomendo bastante. É uma experiência muito diferente.
O Interior do Paraná sempre reserva surpresas super bacanas como essa de Faxinal. Trabalho na região e tem cada “pedacinho” que precisa ser explorado.
Hey, por onde você trabalha? Eu moro do lado de Prude.
Aprendi, aprendei e aprendi.. kkk quanta coisa bacana! Nunca tinha ouvido falar em faxinal, achei muito bacana os animais ficarem soltos e cada um conhecer o seu chamado.
Sim, os animais são um fenômeno!
Nunca tinha ouvido falar de faxinal, e deve ser bem interessante conhecer pessoalmente.
Olha, eu recomendo sim viu? Abraços
Que passeio lindo! Preciso muito conhecer as cachoeiras de Prudentópolis e iria amar esticar para esse lugar histórico, com direito à almoço ucraniano!
Venha… eu te acompanho. 🙂